Debates em redes sociais – raiva ou prazer?

Nasci e fui criado numa pequena cidade no interior do Estado do Espírito Santo, chamada Santa Teresa.

Lá, desde menino, os professores já exercitavam a emulação do debate como uma forma de crescimento intelectual e educacional. Na época eu não tinha consciência do grau de conhecimento técnico deles, mas via no olhar de cada um a sua satisfação em mediar pontos de vista divergentes, e a cada exagero, uma intervenção segura para retornar o bonde ao trilho. Hoje sei que seus estímulos eram empíricos e até certo ponto ingênuos, porém, também sei que o sentimento que os movia foi cristalinamente positivo para a nossa formação. A cada ano tínhamos a eleição para o comando do Grêmio Lítero Esportivo Humberto de Campos, e as chapas eram previamente formadas, geralmente pelos alunos que se sobressaiam nas salas de aula e nas quadras de esportes. Eu não era bom em nenhuma das duas, e a minha opção era através do jeito gaiato me unir a uma chapa que pudesse ajudar a dar voz a desajeitados como eu. Às vezes dava certo, outras vezes não, mas o interessante é que nesse período de eleição todo o colégio se movia em direção ao debate, e os discursos previamente preparados eram frutos de pesquisas e anseios dos colegas. Quando chegava o grande dia o auditório mais ou menos improvisado lotava e as torcidas embevecidas se dividiam e esquentavam o ambiente. Ali já tínhamos o IBOPE de intenção de votos e raramente acontecia de o candidato menos celebrado ganhar a eleição. Fato marcante é que éramos adestrados a aceitar o resultado e a insistir na oposição para tentar melhor sorte no ano seguinte. Dessa forma crescemos com a concepção original de que a grandeza do debate está em defender pontos de vista sem ofensas. Ninguém cresce na bonanza, na zona do conforto, a gente aprende é nas diferenças, nas divergências. Somos pluralistas na visão, na emoção; e a nossa maior virtude, enquanto debatedores, é saber respeitar a posição do outro e juntos criarmos uma linha de pensamento que dê dignidade ao debate. Hoje, com a criação de sites de relacionamentos, em especial o facebook e o Orkut, os ânimos se acirraram e a frequência dos debates exorbitou, desconsiderando um princípio de extrema importância – a gentileza.

Assistimos a milhares de pessoas exporem suas ideias, que, invariavelmente, atingirão outras milhares com ideias e pensamentos diferentes, e lamentamos a frequente transgressão do direito de manifestação do outro. Recentemente, visitando um mural no facebook, resolvi participar de um debate cujo tema era a corrupção no país, eu tinha convicção de que estava entrando num tema polêmico, um vespeiro, mas também tinha em mente que, diante das notícias frequentes nos jornais, revistas etc, não era novidade para ninguém que vivemos, a contragosto, mergulhados numa república de corrupção, independentemente de partidos políticos. Mas o que mais me chamou a atenção foi a defesa escancarada de alguns internautas protegendo nomes e partidos sob o slogan do “sempre se roubou nesse país”, como se isso fosse um comportamento normal, e, discriminatoriamente, se apegando em cada palavra ou frase dita para distorcê-la e cingir para fora do contexto, renunciando do foco do debate num desdobramento que muito pouco iria valorizar o tema. O que era uma troca de conhecimento virou uma provocação unilateral com ofensa pessoal. Para mim ficou a sensação de que as pessoas se escondem por detrás do programa e se sentem blindadas, achando que vale tudo. Talvez o fato de não conhecer o oponente as credencia a torná-lo inimigo, e não, apenas debatedor. A impressão final que ficou foi a de que as pessoas estavam exercitando a raiva, e não o prazer!

Artigo publicado no www.diariocomercial.com.br em 27.10.2011

HR Hunter, Consultoria de Recursos Humanos do Rio de Janeiro, tem como expertise: Recrutamento e Seleção, Treinamento Comportamental, Plano de Cargos e Salários, Pesquisa de Clima e Coaching.