Professor – profissão de risco

Professor – profissão de risco!

Se você é do tempo em que todos os alunos se levantavam quando o professor entrava na sala de aula, você é muito antigo; agora, se você já viu um professor entrar na sala e nenhum aluno deixou de falar ao celular, ou parou de gritar com o colega ao lado achando que estava apenas conversando, ou mesmo interrompeu a guerra de bolinhas de papel, tenha certeza de que você acabou de entrar numa sala de aula do século XXI. Aquele tempo em que a escola era um local tranquilo e seguro para se educar crianças e adolescentes acabou, hoje ninguém mais garante nada. Pode parecer apocalíptica essa afirmação, mas se você percorrer as escolas públicas e a maioria das privadas e entrevistar diretores e professores, em quase todas elas vai ouvir alguma história de violência contra o professor. Pesquisa recente da UFF – Universidade Federal Fluminense – mostrou que 98% das 65 escolas pesquisadas no Rio e Niterói apresentaram algum indício de violência. A sociedade mudou, as nossas crianças deixaram de receber uma educação mais regrada em casa e passaram a ser educadas pelos sites de relacionamento, pelas imagens da TV, pelas conversas entre si nas praças e nas portas do colégio ou nos shoppings. Aquele tempo para ouvir os pais foi substituído pela pressa e pelos questionamentos, na certeza para eles de que esses pais já não sabem mais nada do mundo, são ultrapassados, e eles sim, são atuais, inovadores e donos da verdade. Essa mudança de comportamento encorajada por uma nova ordem moral e social que recrimina as sanções punitivas já a partir de casa àqueles que notadamente transgrediram o direito do outro, em nome da consciência livre e da liberdade de agir, vem recriando uma sociedade de jovens atrevidos e de pais permissivos e até submissos. Estamos vivendo o momento mais triste da história da educação de todos os tempos, definitivamente os alunos perderam o respeito pelo professor e esses por sua vez vivem num clima de cautela, de extremo cuidado para evitar atritos, retaliações e agressões. O aluno hoje pode tudo e repreendê-lo mais severamente chega a representar uma ousadia. A violência contra a escola e o professor não está mais na periferia, ela está em qualquer lugar, e a incerteza do professor de retornar para casa todos os dias livre de ameaças ou de um recado intimidador está cada dia mais distante. Quantos casos ficamos sabendo como este de uma professora que antes de iniciar sua aula e aplicar uma prova pediu aos seus alunos que desligassem o celular, o que tem de errado nisso? Essa atitude é socialmente e pedagogicamente correta. Acontece que uma aluna não obedeceu e no meio da aula o seu celular tocou e ela atendeu. É lógico que essa professora deveria ir, e foi ao encontro dessa aluna para adverti-la e como resposta recebeu um dicionário de palavrões e uma agressão física. E como ficou? Quando chegou à delegacia encontrou o pai da aluna agressora registrando um boletim de ocorrência sob a alegação de que sua filha estava sofrendo bullying! Outro caso recente foi de um professor da rede pública de ensino que reprovou uma aluna e foi ameaçado dentro da sala de aula pelo seu marido que portava uma arma na cintura e fez questão de exibi-la. O papo do marido foi reto: – Você reprovou a aluna tal, minha esposa? É claro que ele respondeu de pronto: – Absolutamente não, deve ter sido outro professor! O que assistimos foi uma inversão de valores e um professor acuado, medroso, renunciando ao direito de ensinar e até de exercer plenamente a sua profissão. Na verdade o problema existe e é sério, e cabe ao governo tomar a iniciativa de envolver a sociedade para debater o assunto. Escola não é delegacia de polícia, e professor não é um profissional treinado para resolver o problema da violência em todas as suas formas, isso é assunto de polícia. Recentemente conversando com uma professora do ensino médio e pré-vestibular, ela foi categórica ao afirmar que tem medo até de registrar uma nota baixa para um aluno que não quer absolutamente nada com o estudo, e mais, afirmou que nos conselhos de classe a maioria das escolas não os reprova com medo de retaliações. Carros riscados, bilhetes anônimos ameaçadores fazem parte das mais diversas formas de intimidação e dificilmente algum professor estaria disposto a se expor diante dessa violência. O mais irônico é que somente pela educação é possível ter uma sociedade melhor e, infelizmente, estão atingindo o lugar mais sagrado.

 

Ubiratan Ferrari Bonino

HR Hunter, Consultoria de Recursos Humanos do Rio de Janeiro, tem como expertise: Recrutamento e Seleção, Treinamento Comportamental, Plano de Cargos e Salários, Pesquisa de Clima e Coaching.