Vida louca

Vida louca

 

Fazemos parte de uma sociedade que está testemunhando uma das mais significativas mudanças da história humana. Em algumas dezenas de anos, quando alguém for ler a história dos nossos dias, certamente vai reconhecer que a descoberta da era digital foi o marco de transformação, sem precedentes, do comportamento humano. Vai poder julgar com assertividade o início de uma geração consumista que foi vitimada, influenciada pelos grandes grupos que dominaram o conhecimento tecnológico da época. As mudanças da tecnologia em ritmo alucinante, a correria para se chegar a algum lugar antes do outro vem construindo um mundo de loucos. Não se para mais para comer, até a ida ao banheiro está sendo adiada. Tudo pelo sucesso para uns e pela sobrevivência para outros. Estamos ignorando velhas e sábias regras de preservação da saúde (vida). Hoje morrem de infarto do miocárdio bem mais do que morria há 30 anos. Mulheres correm mais risco de sofrer infarto que o homem. Estudos mostram que em Nova York, onde a vida é mais atribulada do que em outros estados americanos, a taxa de óbito por infarto é 20% superior e a incidência é maior em regiões com população de alta renda. A média de mortos pela doença é de 300 em cada 100 mil. No restante a média é de 253 (Fonte: Boehnenger Ingelhein). Trilhões de cápsulas de ansiolíticos são ingeridas anualmente a mais do que na década de 80. Na medida em que os velhos e saudáveis hábitos são agressivamente substituídos novas incertezas devoram o nosso cotidiano. Acompanhar o mundo está na ordem do dia, uma simples palavra que se transforma rapidamente em uma obrigação, para muitos uma senha mágica capaz de abrir as portas do reconhecimento público; para outros, a exclusão da vida pela distância que os separa das oportunidades. Porém, parece que o destino irremediável do mundo está escrito. Um processo irreversível que da mesma maneira alcança ricos e pobres, intelectuais e ignorantes. A compressão de tempo/executar vem transformando os hábitos que refletem a condição humana de ser naturalmente feliz. É uma busca tão incessante, carregada de tanto estresse que põe em dúvida a felicidade plena – a pergunta que fica: será que valeu a pena tanta pressão? A tecnologia tanto divide como une, nunca estivemos tão próximos e tão distantes. Viajamos o mundo em segundos na tela do nosso computador. Resgatamos amigos de 40, 50… anos atrás. Convidamos centenas de pessoas para celebrar o nosso aniversário, todos sentados em torno de um site de rede social compartilham momentos únicos de alegria, chegamos a sentir o gosto do bolo de chocolates que virtualmente nos é oferecido. Marcamos encontro com amigos para uma rodada de chopp no boteco da moda e de ombros colados conversamos pelo ipad. Que loucura! Aquele “dolce far niente” deu lugar, a contragosto, ao desejo ou, à revelia, ao movimento contínuo e aparentemente incansável. Hoje estamos em movimento constante mesmo que fisicamente estejamos imóveis. Nosso cérebro excitado não tem mais tempo ao descanso nem quando dormimos. Para quantos esse sono é forçado pela dependência das drogas, sem direito à renúncia, condição essa inimaginável diante dos louros conquistados – ninguém mais quer voltar. A relação trabalho versus consumo mudou tão radicalmente que não sabemos mais se o homem trabalha para viver ou vive para trabalhar, e o dilema sobre o qual mais se cogita hoje é se é necessário consumir para viver ou viver para consumir. Há dúvidas se ainda somos capazes e achamos importante distinguir aquele que vive daquele que consome. Independentemente da época em que nossos pais e avós viveram, a nova cultura formada por nós, dependente da tecnologia, do desejo insaciável de ter, envolve, sobretudo o esquecimento, não o aprendizado. Parece que as lições se perderam na linha do tempo. Não há como ser contra o progresso, mas há como repensar o modelo socioeconômico que nos impinge regras de comportamento. Talvez a mais importante das visões seja o desenvolvimento do “eu”, um sentimento reflexivo do meu destino. Como eu quero me colocar diante do mundo. Será que a felicidade é ter o melhor carro? O mais avançado telefone celular? O mais moderno computador? Os quarenta pares de sapatos de cromo alemão?

HR Hunter, Consultoria de Recursos Humanos do Rio de Janeiro, tem como expertise: Recrutamento e Seleção, Treinamento Comportamental, Plano de Cargos e Salários, Pesquisa de Clima e Coaching.