Imediatismo

O empresário brasileiro reclama que sua empresa trabalha sob uma rotatividade absurda.

Reclama que o empregado assina o contrato já pensando no seguro desemprego.

Há uma mentalidade imediatista, principalmente quando se refere ao candidato de nível médio, ele não tem projeto de vida, sequer sabe o que é isso, é capaz de trocar um plano de carreira por uma indenização de um salário mínimo.

Não é incomum o empresário ser abordado por um empregado pedindo para ser demitido para pagar uma dívida, e se você tenta explicar que ainda é melhor ter um salário com dívida do que não ter nada, ele quase sempre não compreende.

Por outro lado, na outra ponta da corda, assistimos ano a ano muitas empresas desaparecerem com menos de vinte e quatro meses de vida.

Estudo do Sebrae aponta que 56% das empresas pedem falência formalmente antes dos cinco anos de existência, essa conta não inclui aquelas que fecham suas portas e são abandonadas sem a formalidade legal do distrato social, baixa de registro, etc.

Estudos também apontam inúmeras causas que levam os empresários-calouros a caírem nessa armadilha.

– Sonho de ser empresário, sem qualificação, capacitação, para aquele negócio escolhido; alguns veem o vizinho que abriu um negócio comprando carro novo e logo se compara achando que se ele está se dando bem, porque eu que sou melhor não vou me dar!

Uso da única reserva financeira que possui – dinheiro de indenização, por exemplo.

Como não é feito um planejamento cuidadoso, aquele dinheiro logo começa a fazer falta para colocar a comida na mesa.

Nenhuma empresa recém aberta começa a dar lucro no mês seguinte, esse processo leva tempo, entre 12 a 30 meses normalmente.

Alguns que já iniciaram um pequeno negócio informalmente, fundo de quintal, cometem o engano de acreditar que sozinhos já sabem o suficiente para abrir uma empresa sem ajuda, pedem um empréstimo pessoal num banco, ou um empréstimo familiar, juntam com a venda do carro e partem para a regularização.

Aí se deparam com os custos burocráticos da abertura, contador, impostos, taxas municipais, estaduais e federais, custo trabalhista, habilidade para os controles internos, controle de estoque, fluxo de caixa, aplicação correta de margem, previsão de venda, controle de perdas etc., e como não estão preparados começam a agir informalmente dentro de um negócio formal, regularizado.

Essa situação toda descrita é apenas uma parte do todo, pois o que ainda reputo como o mais crítico da decisão de optar pelo negócio próprio é a cultura do imediatismo.

É o jeitinho brasileiro de achar que no final tudo vai dar certo.

A diferença que existe com o empregado que só visa o quanto de dinheiro vai receber no final do mês está na posição hierárquica do negócio, enquanto um recebe e obedece às ordens do patrão, o outro recebe as ordens do mercado, mas ambos pensam e agem de forma imediatista, pensando no hoje, no aqui e agora.

Cada um à sua maneira desarvora pelo ganho rápido sem dar tempo de preparo e sustentação as suas ações.

O Brasil hoje é o campeão da rotatividade no mundo, segundo a OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico: 41% da força de trabalho mudam de emprego a cada ano.

Na faixa de um a dois salários mínimos, esse percentual passa dos 50%. Vejo como saída a longo prazo a qualificação do homem.

Sem treinamento e preparo técnico, dificilmente teremos bons empresários e bons empregados.

Por: Ubiratan Ferrari Bonino

HR Hunter, Consultoria de Recursos Humanos do Rio de Janeiro, tem como expertise: Recrutamento e Seleção, Treinamento Comportamental, Plano de Cargos e Salários, Pesquisa de Clima e Coaching.