Recentemente fui contratado para realizar um processo seletivo para uma determinada empresa e o que tinha para ser um processo simples e tranqüilo transformou-se numa verdadeira competição de Caça ao Tesouro, surpreendendo-me com a quantidade e tipo de interferências durante o processo (tratava-se da busca não sigilosa de um gerente de nível médio). Chamou a atenção, por exemplo, a quantidade de pessoas bem intencionadas e dispostas a ajudar o próximo “dando uma força” para que o “próximo” entrasse na empresa, afinal, “trata-se de um amigo que está desempregado, um pai de uma família grande e que está passando necessidades”, e todas as demais e justas razões que fazem uma pessoa merecer ser ajudada. Ocorre que nas conversas com os funcionários daquela empresa, parecia que para eles a “ficha ainda não havia caído”, como se não vivêssemos uma época de rápidas mudanças ou que não tivéssemos que nos ajustar às mudanças muito rapidamente para manter as nossas empresas competitivas na nova ordem social e econômica. Evidentemente, como consultor, tive que fazer uma “devolutiva” aos responsáveis pelas áreas interessadas em contratações de pessoal visando ajustar esse cliente à realidade do processo de recrutamento e seleção de profissionais. Gostaria, assim, de compartilhar com os colegas de Recursos Humanos, uma parte das reflexões ligadas a aquelas circunstâncias.
A relativa melhoria dos índices econômicos se deve, em grande parte, à modernização dos processos organizacionais bem como ao desenvolvimento e aumento do comprometimento das pessoas em geral, com as empresas onde trabalham. É claro que o cenário continua a ser o de muita exigência e competitividade, demandando decisões rápidas (muitas vezes de caráter oposto às decisões do passado) que, por seu turno, exigem estruturas organizacionais muito fluidas e flexíveis. Coerentes a esses movimentos, todos devem estar, sempre, focalizando o momento presente e, ao mesmo tempo, ampliando os horizontes já que devemos estar sempre prontos para reagir às alterações, sendo esse um processo necessariamente constante. Ora, qualquer pessoa poderá indagar: “Mas o que tem a ver a situação da economia, etc. e etc. com o recrutamento e seleção de profissionais?” A resposta não é complicada! Quem mantém as estruturas, os vários setores de uma empresa? Quem manipula as máquinas? Quem compõe as empresas? Resposta: o ser humano! Assim, a decisão certa sobre a contratação do profissional certo é a maior garantia de sucesso futuro de uma empresa.
Não estamos vivendo uma época de arriscar sem avaliar conseqüências ou de fingir que está tudo bem, dando tapinhas nas costas do outro. Mais do que nunca, é uma época de compromissos, de engajamento com os objetivos da empresa. Não se pode errar: o alvo tem que ser atingido no primeiro tiro! E para manter a qualidade dos Recursos Humanos das empresas, todos devem, com muita freqüência, refletir sobre duas questões:
· O processo de captação e filtragem de novos funcionários está trazendo o pessoal mais adequado às necessidades da empresa ou está servindo para “quebrar o galho” de alguns amigos de conhecidos e/ou funcionários?
· Não estamos sendo demasiadamente rígidos ou frouxos nos padrões de seleção?
Qualquer que seja a conclusão sobre essas questões, já se pode partir de algumas certezas: é certo que pessoal excessiva ou insuficientemente preparado, além de sobrecarregar os custos de recrutamento e seleção traz efeitos negativos para o trabalho (frustração de potencial mal utilizado ou baixo desempenho por despreparo, por exemplo) e influenciam negativamente os colegas da empresa. Além disso, a má seleção significa atrasos nos projetos, omissão na execução das atividades diárias, redução da força competitiva, fomentação de clima organizacional de instabilidade e incertezas, lealdades divididas, deterioração da imagem da empresa no mercado e até descrédito da alta administração. Assim, pelos motivos acima expostos, um processo seletivo tem que ser conduzido com muita responsabilidade e profissionalismo, com ações essencialmente racionais, logo evitando que se tome essa decisão com o coração, apesar das nossas melhores intenções de ajudar ao próximo.
Texto escrito por Paulo César T. Ribeiro